RUAS DE PARIS

Postagem feita originalmente para o blog AUTOentuiastas.

Novos rumos para o automóvel e o transporte pessoal
Recentemente estive em Paris, de férias, com a família. E é claro que durante viagens, como acredito que todo autoentusiasta faça, sempre observo o que circula nas ruas. Acho bacana dividir as impressões aqui no blog, como já fiz com Bangalore, na Índia, e Nagoia, no Japão.

Quando resolvemos visitar a França tomei a decisão de sossegar e ficar apenas em Paris. Ando cansado de viagens corridas, passando por muitos lugares, onde se vê muita coisa mas se conhece muito pouco. Cheguei até a planejar uma escapada até Le Mans, o que seria bom para mim e chato para a família. Ao ficar apenas em Paris, que tem um excelente metrô, e a fama de um trânsito muito ruim, a idéia original de alugar um carro passou a não fazer sentido. Nessa viagem, bem diferente das outras, minha intenção era alugar um carro pequeno, com motor a diesel. Ainda está faltando essa experiência no meu currículo. Mas vai ficar para a próxima.

Confesso que a perspectiva de um trânsito muito ruim na Cidade Luz me desanimou. Aliás, muita genta fala muito mal do trânsito em outros países. Mas o que tenho observado é que o trânsito de São Paulo é o pior de todos, excetuando o de Bangalore. Nas cidades grandes de países desenvolvidos há muitos congestionamentos, sim. Trânsito pesado. Mas há muito mais organização, sinalização e segurança. Mesmo devagar  trânsito flui melhor. As vias são mais bem projetadas e o sentido das ruas e avenidas tem mais lógica.

Em São Paulo, por exemplo, não é difícil uma rua mudar de mão no meio dos seu trajeto. Não há tantos caminhões grandes e barulhentos. Não há motoboys suicidas passando a 70 km/h e buzinando feito loucos. Não há medo de ser assaltado num congestionamento. Não há tantos carros "filmados", o que ajuda a visão mais a frente através dos vidros. E o principal, não há tantos espertalhões. O trânsito é mais civilizado. E por fim, talvez alguns discordem, mas o brasileiro dirige mal e é egoísta. Não tem noção de que existem outros carros ao seu redor. Talvez seja uma questão que vai até além do trânsito, um questão de educação elementar e disciplina. 

O trânsito na famosa Champs-Élysées
Então o que encontrei em Paris, sem a menor dúvida, é bem melhor que São Paulo. Mas mesmo assim, acho que acertei na decisão de usar o metrô e meus pés. Dirigir nas grandes cidades requer muita atenção, mesmo com navegador, o que aumenta um pouco o estresse e diminui a diversão. E tem um outro fator crucial, o estacionamento. Achar um vaga na rua é um transtorno e os estacionamentos são caríssimos. E sempre há a necessidade de voltar para "buscar" o carro, ou seja, tem que se manter uma distância razoável do carro. Já aconteceu em outras viagens de andar tanto e ficar mais próximo do hotel do que do carro. 

Mas vamos lá; vamos ver o que encontrei lá. 

Em Paris há um interessante sistema de aluguel de bicicletas. Você tira uma carteirinha e pode usar/alugar uma bicicleta em uma das mais de 1.200 estações espalhadas por toda a cidade e devolver em qualquer outra. Os primeiros 30 minutos são de graça. Até uma hora custa um euro (2,60 reais) e depois disso o preço vai aumentando progressivamente. Muita gente usa, jovens e até idosos, e esse meio de transporte já está totalmente integrado a rotina da cidade e funciona muito bem. Dificílimo de acreditar que isso possa ocorrer em São Paulo.

Estação de locação de bicicletas
De bicicleta no meio da rua
Pensamos em fazer passeios de bicicleta. Mas, diferente do que se possa imaginar, não há ciclovias.. O que há são ciclofaixas, demarcações nas vias, e que são muito estreitas. Ou seja, se anda na rua mesmo, e eu não senti segurança em andarmos no meio do trânsito. Em São Francisco é a mesma coisa. Eu teria que pensar nos caminhos e ainda cuidar da mulher e filha. Então gastamos muita sola de sapato.

Uma senhora pedalando forte e cruzando uma movimentada avenida
Na contramão
No meio dos carros

Mas como o Bob sempre diz, bicicleta não resolve a vida de todo mundo. Carros ainda apresentam muitas vantagens e conveniência.

Bluecar, um carro feito para o compartilhamento
E pensando nisso é que Paris recebeu o audacioso programa de compartilhamento de carros elétricos chamado Autolib'. Assim como com as bicicletas, a idéia é pegar o carro em uma das 1.100 estações de recarga espalhadas pela cidade e arredores, usar o carro para o que for necessário e devolvê-lo em qualquer estação. Falando assim parece algo fácil de ser feito. Mas todos esse sistema, que vai desde a tecnologia do carro elétrico, estações de recarga, espaço físico e até à infraestrutura nas ruas para as estações e gerenciamento do uso e manutenção dos mais de 1.700 carros, deve ser bastante complexo.

Quatro Bluecars para compartilhamento
Mas a empresa que está por trás disso, a Bolloré, não está mirando exatamente o compartilhamento de carros. Um dos braços da Bolloré desenvolve e produz baterias de lítio-metal-polímero (que o AAD pode explicar melhor) e acredita ser essa a melhor solução para baterias de automóveis. Todo esse sistema de compartilhamento de carros é um grande laboratório e uma bela vitrine. Tem uns caras que são realmente visionários.

Bluecar recarregando
O carro compartilhado é o Bluecar, desenvolvido pela Pininfarina e produzido na Itália. O desenho é interessante, mas a construção e execução é muito simples, boa para um carro compartilhado.  Ele tem chassi de alumínio e aço com carroceria em alumínio e plástico. Sue motor é elétrico de 35 kW (47,6 cv) com autonomia de 250 km na cidade. Com 3,65 m de comprimento, 1,70 de largura e 1,61 de altura, pesa 1.120 kg e faz de zero a 60 km/h em apenas 6,3 segundos. Eu gostaria de tê-lo dirigido para poder passar algumas impressões aos leitores. Mas o cadastro para o aluguel é bem mais complexo que o das bicicletas, e imaginem a empolgação da patroa e da filhota...

Bluecar, desenhado pela Pininfarina
Outro modelo que me surpreendeu muito também é elétrico – vejam só como as coisas realmente estão mudando. Entendo que a maioria de nós vê nos carros muito mais que um prático meio de transporte. E isso é o que nos envolve. Há o prazer em dirigir, a liberdade, a sensação de poder, a projeção de uma imagem, as histórias, as competições e a própria evolução dessa máquina maravilhosa. Mas o fato é que como transporte nos centros urbanos a coisa está ficando realmente chata, justamente devido à grande quantidade de carros, ou de pessoas, como o Bob Sharp costuma dizer (e eu concordo). 

Smart, por todo lado tem um
Toyota iQ, pouca coisa maior que o Smart, mas leva quatro pessoas
BMW C1, não é necessário usar capacete
Então os fabricantes tem que começar a se mexer e propor soluções compatíveis com a realidade atual. Isso principalmente na Europa. E não é sempre que nos deparamos com algo realmente interessante como o Smart (para dois passageiros), o Toyota iQ (para quatro passageiro) e o scooter BMW C1 (para um passageiro). Eu também incluiria o Tata Nano, mesmo que seu propósito tenha sido ser barato, por ser pequeno e prático, e também a inovadora primeira geração do Renault Twingo. Esses modelos, com maior ou menor compromisso de algumas comodidades, atendem muito bem à necessidade de transporte em grandes centros. 

O pequenino Twizy, as portas são opcionais
Aí é que eu acho que a Renault acertou em cheio com o Twizy (embora a confirmação só virá com o tempo). Um "ovo" motorizado, ou scooter de quatro rodas. Ele bem menor que um Smart fortwo, tem 2,34 metros de largura, 1,28 metro de largura e 1,45 metro de altura. E se estacionado perpendicularmente ao meio-fio dá para parar três Twizy numa vaga normal. Com 450 kg de peso (100 apenas da bateria), tem centro de gravidade bem baixo o que aumenta muito a estabilidade. É bem mais seguro que uma moto e é equipado com airbag e cinto de segurança de quatro pontos para o motorista e de três pontos para o passageiro, que fica atrás do motorista, a chamada disposição em tandem, que em inglês significa exatamente isso, As rodas são 13 pol., os freios são a disco nas quatro (sem ABS), a suspensão independente na dianteira e na traseira com barra estabilizadora em ambas e direção sem assistência.

Twizy, com "garupa"
Há duas versões do Twizy, ambas com tração traseira (propulsão, como os franceses gostam de chamar; para eles 'tração' remete automaticamente a tração dianteira). O  Twizy 45 é bem mansinho, com motor de 4 kW (5,5 cv) , não passa de 45 km/h. Na França há uma classificação, quadriciclos leves, no qual essa versão do Twizy se enquadra, que não requer permis de conduire, carteira de motorista. Ideal para jovens inexperientes ou para os motoristas que perderam a carteira por exceder os pontos.

Um amigo que mora lá me disse que essa categoria é chamada de "carro de bêbado". É o jeitinho francês para continuar motorizado. Há outros modelos de fabricantes locais como a Ligier. que usam essa classificação para fazer carros para os que não podem ter carteira de habilitação. Interessante que o slogan da Ligier é "Freedom to Move" algo como liberdade de movimento. Depois falam do jeitinho brasileiro!

Twizy, bem mais seguro que uma moto
Um dos vários modelos de "carro de bêbado"
A outra versão do Twizy, o Twizy 80, é mais potente, com 15 kW (20,4 cv) e atinge 80 km/h. Tanto o 45 quanto a 80 possuem apenas uma marcha à frente e a ré, acionada por botão no painel. Parei numa concessionária para ver o carrinho e tinha um 80, completo com portas (a versão básica é aberta) e rodas de liga. Não há vidros laterais nem como opção mas o interior é todo de plástico, e lavável. Essa que eu vi custava 9.080 euros (quase 23.500 reais). A básica 45 custa 6.990 euros (18.000 reais). Como referência, o Twingo parte de 11.000 euros (28.380 reais) e o scooter Piaggio MP3 125, de três rodas (duas na frente) e muito popular em Paris, sai por 5.990 euros (15.450 reais). O Twizy me parece bem posicionado.

Piaggio MP3, bem popular
Outra novidade do Twizy é que a bateria tem que ser alugada por 50 euros (130 reais) por mês. A Renault diz que o custo operacional mensal de um Twizy, incluindo seguro, aluguel da bateria, manutenção e recarga da bateria é 15% menor que num scooter de três rodas. Interessante. A bateria é de íons de lítio e demora 3 horas e meia para ser carregada; a autonomia é de 100 km. Para isso pode ser uma tomada comum de 220 volts ou uma estação de recarga.

Twizy, não só para jovens
Ainda é cedo para julgar, mas essa aposta me parece muito mais certeira que o Leaf da Nissan.

Um Twizy no meio do trânsito, ele ocupa muito menos espaço
No geral, o que também me chamou a atenção foi a grande quantidade de carros pequenos e de motos e scooters. MINIS e Smarts estão por todo lado. E Toyota iQ e Fiat 500 também, embora em menor quantidade. Cheguei a ver uma fila de seis Smarts parados na rua. Os MINIS novos são muito populares, mas há muitos dos antigos também. São carros práticos e econômicos, fáceis de estacionar, e ágeis. Sempre achei o Smart uma bela sacada, que vai além dessa coisa meio descolada. É funcional, racional e com um desenho que atrai o emocional.

Mini com pára-choque "náutico"
Minis por todo lado
Toyota iQ:, acho-o simpático
Renault Twingo, na versão esportiva Gordini
Mais Mini
Há muito mais scooters do que motos. Desde Vespas a essas scooters maiores e mais confortáveis de 300 cm³ além da interessante Piaggios MP3 de três rodas. É impressionante como homens e mulheres andam rápido e muito confiantes, como se realmente não existisse a possibilidade de serem fechados ou atingidos por outros carros. Talvez por confiarem na educação dos outros motoristas. Nos primeiros dias houve várias pancadas de chuva e o pessoal não estava nem aí. Continuavam acelerando! Eu imaginei que veria muitos tombos, mas vi apenas um. O cara bateu nma van, caiu, se levantou e saiu andando. E o barulho dos scooters é bem irritante, pois seguem uma legislação mais branda. Nas horas de pico as ruas ficam tomadas por eles e motos.


Triumph Boneville, nada popular mas muito bacana
Um programa muito bom para quem vai a Paris é visitar o showroom de algumas marcas na famosa avenida Champs-Élysées. Há showroom da Peugeot, Renault, Citroën, Mercedes-Benz e Toyota. Todos bacanas. O da Renault é muito bom para tomar um café ou comer algo na lanchonete, mas o que mais gostei e mais me impressionou foi o do Citroën. Há oito platôs empilhados com um carro exposto em cada um. Todos os últimos carros-conceito da marca estão lá. Um mais interessante e ousado que o outro. 


Galeria Citroën, será desativada devido a crise
Acho que os franceses (e um pouco dos italianos), que contrabalanceam a austeridade germânica, têm muita coragem para ousar. E isso é bacana. Essa nova linha DS da Citroën é um bom exemplo. O DS3, recém-lançado aqui, está fazendo o maior sucesso. Foi o Citroën que mais vi nas ruas, seguido do novo C3. Os DS4 e 5 também estão aparecendo. É uma pena que a situação na Europa esteja mal. Enquanto eu estava lá a PSA (Peugeot-Citroën) demitiu 8.000 funcionários. 


Citroën DS4: a Citroën acertou a mão na linha DS
Citroen Survolt
  
Abaixo mais algumas fotos. 




Entre os esportivos de luxo, os Aston Martin (este e os dois acima) são bem populares
Na Europa ainda existem peruas como a Opel Insignia...
... e a Renault Mégane. Será que vão durar muito mais?
Chrysler 300C...
...que virou Lancia Thema 
Juke, o Nissan mais popular em Paris, minha mulher adorou
Os franceses também andam de Sandero "cross"!
Mas também andam de Mercedes classe S, sem ser blindado, com vidros abertos e sem seguranças!
De cima do Arco do Triunfo avistei o carro mais inesperado em Paris, um Plymouth Prowler!
Como em São Paulo, domingo de manhã é dia de passeio com os brinquedos
Citroën Revolt
Galeria Citroën, GT e Survolt
Citroën C- Métisse
Citroën Survolt
Toyota GT86, com prazer
Mais uma alternativa?
Citroën 2CV, popularizou o automóvel na França

Texto atualizado em 11/09/2012: correção do dado de aceleração do Bluecar.

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