Se por um lado estou trabalhando feito um camelo, apesar dos camelos não reclamarem, decidi que a preguiça não vai me impedir de aproveitar algumas oportunidades para eu fazer o que mai gosto: pegar um carro (de preferência bacana) e sair em viagem meio sem destino, descobrindo o mundo, carregando minha câmera. Idealmente sozinho, mas se a companhia estiver disposta a não me atrapalhar ou tiver predisposição acrescentar algo nessa experiência também é bem-vinda - o primo AK é um exemplo de parceiro bom pra isso, estar com ele é sempre uma troca. Se for pra reclamar ou não entrar em sintonia completa prefiro que se manque.
... Acabei de pensar que meu prazer estaria uma combinação de entusiasta com fotógrafo da National Geographic. Um bom plano B para minha aposentadoria.
Então, caiu no meu colo uma viagem para Los Angeles, dois dias e meio com programação intensa e sem tempo para nada além de fazer reuniões e relatórios. Isso vindo de duas semanas insanas e sem tempo para sonhar ou preparar essa viagem com mais calma.
Nos dias de trabalho aluguei um
people mover irmão maior do meu Corolla, um Camry. Cheguei lá tão cansado e só pedi que me dessem o melhor carro com a menor tarifa. Estávamos em três e o Camry atenderia o papel de taxi. Ter muita iniciativa às vezes é ruim, pois coube a mim a função de chofer quando na verdade eu queria mesmo era descansar.
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Camry, enquanto cumpria obrigações |
O Camry é um bom carro, o carro ideal para os sem paixão. A Toyota até que tenta... tem um belo V-6 com mais de 280 cv, tem uma dinâmica até que esportiva para o dia-a-dia e no caso desse que alugamos tem um "pacote" de aparência menos careta. Sem dúvida um excelente carro. Mas definitivamente prefiro um Lexus IS-F com seu motor 5.0 e mais sangue nas veias. Para piorar o descontentamento o Camry estava desalinhado e bem a 70 milhas por hora o desbalanceamento total das rodas se manifestava. Quer coisa mais irritante que isso! Mas ninguém quis voltar até o aeroporto ou a outra Hertz qualquer para trocar de carro.
Mas chegando lá consegui mudar a passagem de volta de quinta-feira para sábado. Ou seja liberei dois merecidos dias para fazer o que gosto. Reservei mais dois dias de hotel por minha conta, uma bela porcaria por sinal, mas barato. E isso significou poder gastar mais no carro! Devolvi o Camry na data combinada e peguei o pony, também por minha conta, é claro. Aqui vale uma "reflexão".
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Os dois são invocados |
Pelo mesmo preço, além do Mustang GT 5,0-litros com 418 cv também estavam disponíveis o Camaro SS 6,2-litros com 432 cv e o Challenger R/T 5,7-litros com 380 cv. E agora? Que dúvida gostosa de ter! Nunca dirigi um Challenger, e apenas dei uma pequena volta num
Camaro V-8 que o primo Arnaldo testou. Mas já aluguei Mustang e Camaro, ambos V-6. De cara pensei no Challenger por ser uma total novidade para mim e bom para um post. Mas os amantes MOPAR que me perdoem (eu também sou um amante MOPAR) pois acho as proporções da carroceria do Challenger estranhas. Olho para ele e apesar de achá-lo muito bacana no geral, tem algo estranho com a relação entre comprimento, largura e altura. Simplesmente acho o Mustang e o Camaro muito mais legais.
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Que escolha difícil, quando for assim escute seu coração |
Pela minha experiência com os V-6 acho que o Camaro aparenta ser muito mais carro que o Mustang. É um relógio suíço, ou o carro americano que mais se aproxima de um BMW em refino técnico. Mas tem algo aí que me incomoda. Isso foge muito do que entendo por
muscle car.
Muscle cars não devem ser perfeitos! Devem sim ser autênticos, ter personalidade própria e não a de um robô alienígena.
Nesse momento entendi que deveria fazer uma escolha emocional e pronto. Então segui meu coração e não a cabeça e selecionei o Mustang no site da Hertz. Imediatamente após envie a reserva para os amigos AUTOentusiastas para dividir o momento bacana. Vieram três comentários: "Tá caro!" do JJ, "É manual?" do AK, e "Agora tá macho!" do AG.
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Caro! Pode ser. Então ande de Impala! |
Sempre fui macho, mas confesso que o V-8 de mais de 400 cv ajuda muito. Não havia opção de caixa manual, infelizmente, e caro ou barato é relativo. Se você quer muito uma coisa e essa coisa cabe no seu bolso, se é caro ou barato não vem ao caso. No final como no balcão eu incluí o tanque cheio e mais um seguro o valor ficou em 458 doletas! Caro? NÃO. No Brasil, com esse valor se aluga um Astra ou Vectra por dois dias. Ou por um pouco menos um
Impala por uma semana!
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Selvagem, no espírito e na atitude |
Um dos meus colegas veio embora nesse mesmo dia e o outro, mais novo e inxperiente ficou. Eu logo alinhei regras, as minhas é claro, e informei que não estava previsto nenhum passeio turístico tipo Hollywood, Beverlly Hills, Rodeo Drive, etc. Muito menos shopping ou
outlet! Se ele quisesse fazer qualquer coisa dessas, que alugasse um outro carro e se virasse. Mas ele é gente boa e apesar de nunca ter ido para os Estados Unidos antes entendeu que ficar comigo poderia ser interessante.
Pegamos o carro azul escuro com as faixas brancas e mais alguns acessórios estéticos que deixam o carro mais invocado. Aerofólio na tampa traseira, aplique no painel traseiro, coberturas com
louvers nas janelas traseira (remetendo aos
fastbacks antigos), falsas entradas de ar nos para-lamas traseiros, e um sobressalto falso adicional no capô, que deixa o carro muito mais musculoso. Esse sobressalto é bem alto e até atrapalha um pouco a visão. Mas mesmo como um acessório apenas estético eu gostei bastante. Além disso o carro também tinha rodas de 19 polegadas. Esse conjunto deve ter sido montado para a Hertz, pois todos os outros que vi lá eram iguaizinhos. A Ford tem uma enorme gama de acessórios bacanas para o Mustang - quem quiser montar o seu e se divertir com o sonho recomendo o
customizador.
Mas o item de série mais emocionante desse carro é o ronco do V-8 que ecoa grosso pelo escapamento duplo. Nós temos poucas referências desse barulho aqui no Brasil. Algum músico louco bem que poderia gravar esse som, criar notas e compor uma música a partir desse ronco.
Saímos dalí direto para o Museu Petersen que já falei um pouco sobre ele em um breve post de 2008 -
veja aqui. Dessa vez o museu estava bem diferente e inclusive com uma amostra específica de supercarros. Claro que logo sairá outro post sobre essa visita.
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Interior completo, mas o que eu queria é era acelerar |
Mas nesse caminho pegamos um trânsito enorme e tive que me virar com a ansiedade de rodar, acelerar, o GT. O computador de bordo marcava 8,7 milhas por galão (3,7 km/l) quando peguei o carro. Achei um número muito ruim e imagino que quem usou o carro antes deve realmente ter abusado. Minha média, mesmo usando o modo binário (0 ou 100% de acelerador) e fazendo inúmeros "quarto de milha" entre as paradas nos semáforos, foi de 12,5 milhas por galão (5,3 km/l), apenas levemente pior do que minha antiga Fielder flex rodando com etanol - e comigo dirigindo. Mas acho dificílimo alguém se comportar o suficiente ao volante desse carro a ponto de fazer as 18 milhas por galão (7,7 km/l) de consumo em cidade conforme homologação do GT. É simplesmente impossível não acelerar esse carro!
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Novíssimo five-oh! Uma das capas mais bonitas que já vi. |
Esse 5.0 é novíssimo, bloco e cabeçotes de alumínio, duplo comando variável com 4 válvulas por cilindro e taxa de compressão 11:1 (sem injeção direta!). Com a chegada do Camaro a Ford teve que se coçar e trabalhou muito bem. Tanto o eixo rígido traseiro e o motor de menor cilindrada são estratégias para deixar sempre o Mustang mais barato que o Camaro. Enquanto o Camaro tem um 6,2-litros com 432 cv a 5.900 rpm e 58 m·kgf a 4600 rpm, o Mustang tem um 5,0-litros, chamado pela imprensa americana de
five-oh, com 418 cv a 6.500 rpm e 54 m·kgf a 4250 rpm. Porém o Mustang pesa 114 kg a menos. Em teste recente da
Motor Trend o Mustang engoliu o Camaro e o Challenger em performance e dinâmica e em outro teste andou junto com o BMW M3 na pista. Realmente impressionante o que a Ford fez.
Ainda nesse trânsito aproveitei para me familiarizar com os comandos e descobrir outras coisas como o ajuste da direção com assistência elétrica (sport, normal ou conforto) e também desabilitar os controles de tração e estabilidade. Mais tarde brinquei um pouco com isso, mas consegui apenas um leve
burn-out.
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O bom das direções com assistência é que se pode ter vários ajustes |
Depois do trânsito ficamos umas quatro horas no museu e quando saímos já era o entardecer. O museu fica numa região com trânsito intenso. Me lembrei do observatório Griffith que fica muito próximo do museu, nas montanhas onde há o famoso letreiro Hollywood. O caminho até lá é uma estrada sinuosa e deliciosa para explorar o torque do
five-oh. Fui para lá para fazer esse motor respirar de verdade. Mas a estradinha estava muito movimentada.
Estacionamos o carro e enquanto eu fazia algumas fotos uma gata esportista que estava se alongando bem ali nos disse: "Que o carro bacana!". Imediatamente lembrei do AG. Nada como um grande capô com um belo sobressalto... Ficamos lá admirando a vista do centro de Los Angeles até o sol se pôr por completo. Na volta, como sou um cara legal, e além disso o trânsito já tinha baixado e estávamos bem perto das atrações, e também porque eu queria continuar dirigindo, fiz um tour por todas as atrações da região. Meu colega adorou.
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Esse azul contrasta muito bem com o marrom da paisagem árida |
Dia seguinte. Dia de estrada. A consulta no Google Maps me mostro que a uma hora e meia de Los Angeles há um lago com parque recreativo. Pegamos a famosa
Highway 1 ou
Pacifc Coast Highway, uma das mais bonitas estradas dos Estados Unidos, e fomos lá beirando a costa na direção norte. O legal dessa estrada é que ela é no nível do mar e é separada do interior por uma cadeia de montanhas não muito alta. Então há várias estradas que cortam essas montanhas, quase todas vazias e sinuosas. E para chegar no lago Casitas, nosso destino, tivemos que pegar vários trechos assim.
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Recreação básica para autoentusiastas |
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Carro para o sul, direção para México e trem para o norte, direção para São Francisco |
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Esse trem beira a costa, do lado direito do carro está o mar |
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Terreno montanhoso com muitas estradas divertidas, tipo de passeio que não se faz com a família |
E nesses trecho que pude abusar um pouco e produzir alguma adrenalina. Ah como isso é bom! Lembrei muito do Arnaldo nessa hora. Ele simplesmente ficaria louco lá. Lembrei também da pergunta dele sobre a caixa. Automática!!!!
What a f...! E o pior, não tem um modo manual sequencial no volante e nem na alavanca. Eu queria muito mais adrenalina, queria sentir o ronco nas reduzidas, queria esticar e segurar marchas até o limite, ver o ponteiro lá no vermelho, queria usar menos o freio, queria soltar mais a traseira - que não saía nem sem os controles desligados. Ele tem diferencial com deslizamento limitado. Mas quem sabe se todos meus quereres fossem atendidos a adrenalina teria sido em excesso e o passeio teria terminado antes da hora. Consolo.
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5.0! |
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Na rampa de descida dos barcos |
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Rimos muito dessa situação |
O importante é que deu para sentir que o carro tem pegada. Não me deu nenhum susto, nenhum um sustinho mesmo. A direção é impecável e a caixa de seis marchas cumpre sua função sem hesitação alguma. É absolutamente neutro e grudado no chão. Suspensão e freios perfeitos. Transmite muita confiança, mas acho que o M3 é ainda mais no chão. O Mustang ainda preserva seu espírito mais livre e selvagem. Gosto mais assim!
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Cavalo selvagem |
Curiosamente, o Mustang apesar de firme e confiante tem um rodar muito confortável. Eu acho impressionante como os carros modernos conseguem ter um rodar suave e confortável mesmo com rodas gigantes, pneus de perfil baixo e suspensões bem firmes para poder lidar com mais de 400 cv. No caso desse GT tem uma coisa que ajuda um pouco; os bancos são fantásticos, que apesar de terem um bom suporte, são macios. Para quem tem tem mais de 100 kg de massa isso faz muita diferença. Eu odeio os bancos dos modelos RS da Audi, todos feitos de pedra lascada. Cada vez eu gosto mais dos muscle cars.
Outra coisa que faz diferença é a superfície do pavimento. Na Califórnia eu notei que a situação não é lá grande coisa. Tem muitos trechos de estrada que estão bem degradados e o meu pensamento constante era que a grama do vizinho não é tão mais verde que a nossa. É como se eu procurasse defeitos para me consolar. Mas logo que cheguei de volta ao Brasil e rodei pela colcha de retalhos que é a minha rua tive que aceitar a nossa triste realidade. Isso sem contar que nossas ruas e avenidas tem seção em arco de circunferência, ou seja tem uma caída, muitas vezes acentuada, para escoamento de água. As marginais em São Paulo causam um choque assim que saímos do aeroporto de Guarulhos.
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