BMW GT: GRAN TURISMO? OK!

Post feito originalmente para o blog AUTOentusiastas.


Outro dia eu comentei com alguns amigos que estava com a idéia de pegar um carro bacana e fazer um bate-e-volta saindo de São Paulo indo até Paraty, no Rio de Janeiro, e voltando para São Paulo no mesmo dia, usando a Rio–Santos e fazendo muitas fotos. Só faltava o carro bacana.

Eu tinha a idéia de fazer essa viagem de Range Rover Evoque ou de BMW Série 1 M, dois carros que me atraem. Mas no final de semana passado acabei conseguindo um caro que achei interessante para esse passeio. Liguei para um amigo para convidá-lo e disse que estava de BMW GT. Ele exclamou: aquele laranja! Não, eu respondi. Aquele é um M3 GTS e deve ter apenas uns dois ou três no Brasil. Consegui um Série 5 GT! Quase ninguém conhece esse carro. E eu mesmo tinha minhas dúvidas sobre ele, ou sobre o propósito dele.

GT? Entendo a definição de GT como a que está na Wikipedia.

Um grã-turismo, ou GT é um automóvel de luxo e alto desempenho, projetado para ser dirigido por longas distâncias. O formato mais comum é o cupê de duas portas, com dois lugares ou com a configuração 2+2
O termo deriva do italiano gran turismo, homenagem à tradição do grand tour (inglês para "grande viagem"), usado para representar automóveis capazes de realizar grandes jornadas de grande distância em alta velocidade com conforto e elegância.


Vamos ver que qualidades descritas na definição acima estão presentes no Série 5 GT: 

> automóvel de luxo e alto desempenho – é luxuoso, faz de zero a 100 km/h em 6,3 segundos e chega a 250 km/h de velocidade máxima – OK;
> projetado para ser dirigido por longas distâncias – OK;
> cupê  de duas portas, com dois lugares ou com a configuração 2+2 – a carroceria pode ser descrita como cupê, mas no banco traseiro há um espaço que cabe um búfalo – 1/2 OK;
> capaz de realizar grandes jornadas de grandes distância em alta velocidade com conforto e elegância – a única parte discutível é a elegância, apesar de eu o achar muitíssimo elegante – OK.

É, acho que esse BMW pode receber esse nome com muito mais propriedade do que o Vectra GT! E a viagem deveria ser boa.

Mas nem sempre pensei assim. Quando ele foi apresentado em 2009 como BMW Concept, a BMW o descreveu como PAS de Progressive Activity Sedan que nada mais é do que um nome bacana para crossover, ou uma mistura de sedan, perua e utilitário esporte. Eu não engoli muito bem esse conceito, mas como já disse em outros posts, fazer pré-julgamentos não nos faz muito bem. Podemos perder coisas ou experiências bacanas ao fazer pré-julgamentos negativos antes de ver ou sentir "a coisa real".










Recentemente avaliamos um Série 7 aqui para o blog. Um sedã fenomenal! Mas super-formal. Em 2011 avaliei brevemente um X6 (que a BMW denomina SAC – Sport Activity Coupe), um utilitário para causar impacto onde quer que se chegue mas com espaço limitado no banco traseiro. O GT é mais discreto e menos abrutalhado que o X6 e tenta quebrar a formalidade do Série 7 ou Série 5 mantendo um espaço interno incrível. O GT tem o mesmo entreeixos do Série 7. São 3.070 milímetros, ou seja, 137 milímetros a mais que o X6 e 102 milímetros a mais que Série 5. Estou utilizando o Série 7 como comparação porque o Série 5, incluindo o GT, foram desenvolvidos na mesma arquitetura que ele e dividem muitos componentes aparentes e não aparentes. Basta entrar num 7 e num 5 para perceber isso. 


Logo que saí como o GT o que mais me impressionou foi a visão para frente. O pára-brisa é enorme e a posição de dirigir é semi-elevada. Isso mesmo, mais alta que na Série 5 e mais baixa que no X6. E talvez esse seja o único ponto que eu não tenha gostado muito no carro. Apesar se ser apenas semi-elevada, eu não achei um ajuste do banco satisfatório. Nos utlitários esporte como o X6 o carro todo sobe e a inclinação da coluna de direção em relação ao banco é praticamente a mesma de um sedã. Mas no GT, o assoalho ficou no mesmo lugar e o banco e o teto subiram O GT é 95 milímetros mais alto que o Série 5 com altura total de 1.559 milímetros. 



Isso faz com que a coluna de direção fique mais em pé. Não conseguia encostar os joelhos/coxas no volante. Posição de dirigir similar a de minivans. Talvez um pouco melhor. Do ponto de vista do motorista entusiastas uma perua Série 5 seria mais apropriada. Mas com certeza o conforto e espaço do banco traseiro não seriam os mesmos. Como consolo, em estradas sinuosas, com passageiros atrás, não seria possível explorar a dinâmica do carro.








Quando peguei o carro o banco estava na altura máxima! Logo pensei no Bob Sharp falando sobre a "visão de comando da estrada", tão adorada pela grande massa. Baixei todo o banco e senti que o carro poderia ser 10 milímetros mais baixo sem problema algum. Mas a boa notícia é que o comportamento dinâmico continuou digno da marca. O entreeixos maior compensou a altura extra. E os pneus muito largos, mais a suspensão traseira esterçante, como no nos irmãos Série 5 e 7, e todos os anjos eletrônicos, praticamente é impossível se perder com esse carro. O aviso do controle de estabilidade no painel só acendeu uma vez, quando passei por uma faixa pintada numa curva rápida e toda remendada. O conjunto de direção com assistência elétrica variável ativa, ajusta a assistência de acordo com condição, com a suspensão precisa, deixa o carro muito seguro.


Para compensar o peso extra de tantos equipamentos de segurança e conforto (imagine o peso de um teto solar duplo, dos motores dos bancos elétricos ou da tampa traseira bipartida) e melhorar o comportamento dinâmico e conter o consumo de combustível e emissões de gases, o capô e as portas são de alumínio. As portas também não tem quadro dos vidros e de acordo com a BMW a redução de peso conseguida nas portas é de 28 kg. A tampa traseira também tem a estrutura feita de alumínio fundido. Mesmo assim o GT pesa 1.940 kg,  240 kg a mais que o Série 5 e apenas 5 kg a menos que o Série 7. Poucos carros de passeio pesam quase duas toneladas.

O motor do GT 535i é um 6-cilindros em linha de 3 litros e injeção direta chamado de TwinPower Turbo. Ele é chamado assim para não ser confundido com o motor antigo, um twin turbo, de dois turbos. Nesse novo motor o coletor de escapamento é dividido em dois e a carcaça por onde os gases de escapamento passam é bi-partida fazendo o mesmo efeito de dois turbos menores. Com isso o torque máximo de 40,8 m·kgf já é atingido a meras 1.200 rpm. A potência máxima é de 306 cv a 5.800 rpm. Quando peguei o carro e descobri que era o modelo 535i fiquei um pouco decepcionado pois sempre imagino os Série 5 com motor V-8. Aconteceu o mesmo quando peguei o X6. Mas o fato é que esse seis-em-linha é fenomenal! O conjunto formado com a caixa automática epicíclica de 8 marchas (a mesma do Série 7) impressiona na  agilidade, precisão e suavidade. Faz o carro encolher!


O painel de instrumentos é supertecnológico e apresenta uma série de informações muito bem organizadas. Há informações do computador de bordo, do navegador, do sistema de áudio, e também o mostrador EfficientDynamics, que mostra o consumo de combustível e o fluxo de carga para a bateria nas desacelerações. É o mesmo painel do Série 7 que testamos aqui no blog. Só que no 7 é ainda mais completo pois o carro tem mais equipamentos. O navegador é mostrado tanto na tela do sistema multimídia quanto no painel de instrumentos, que mostra a direção a seguir em detalhes do mapa que aparecem na parte central inferior. O nome das vias trafegadas também aparece no painel, uma função que gostei muito. Em resumo, é o melhor painel de instrumentos que já vi.


Uma das coisas que observei nesse passeio é que é muito difícil fazer tudo ao mesmo tempo. Quando saio com outros autoentusiastas posso me concentrar muito mais nas fotos dos carros. Mas nessa viagem eu queria aprender tudo sobre as tecnologias e funções do carro, desfrutar do prazer de dirigir um BMW numa estrada como a Rio–Santos, observar a paisagem e ainda fotografar, o carro e a paisagem. Mas uma coisa eu já aprendi em outros carnavais: quando minha mulher pergunta a que horas pretendo voltar não sou nada otimista. Já digo logo que será tarde com possibilidade de ser mais tarde ainda. Com tantas coisas na cabeça a preocupação com horário é uma que não preciso. E por isso muitas vezes prefiro fazer esse tipo de passeio sozinho.


Nessa viagem acabei dando menos ênfase para as fotos e mais para o prazer de dirigir. Uma coisa que dificultou um pouco é que a Rio-Santos quase não tem pontos de parada ao longo de seu percurso. É necessário sair da estrada e entrar nos caminhos para as praias para encontrar locais mais seguros para paradas. Fiz isso um pouco no começo, mas as gigantes rodas de 19 polegadas com pneus 245/45 na dianteira e 275/45 na traseira não combinam com estradas de terra, e buraqueira. Em um dado momento, quando entramos em Juquehy, para lembrar dos tempos do surfe, pensei comigo mesmo que um Toyota SW4, ou um Land Rover Freelander seriam melhores para aquele passeio.


Mas o GT me encantou muito. É grande e com um espaço interno fenomenal, sem perder a agilidade. Excelente para viagens longas e para algumas "lenhas" no percurso. Seu motor e caixa são simplesmente perfeitos.

Ao voltar para o meu "humilde" Corolla me senti desproporcional em relação ao meu carro, como se ele tivesse encolhido e ficado do mesmo tamanho do Mini de Issigonis. Acho que não devo ter essa sensação quando conseguir pegar um Série 1 M!

PK























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