BMW 750i: PRAZER PELA PERFEIÇÃO


Bob Sharp, Arnaldo Keller, Felipe Bitu e eu tivemos a oportunidade de avaliar um BMW 750i para um post para o AUTOentusiastas feito a oito mãos. As textos do Bob, Arnaldo e Bitu podem ser encontrados nos links que estão no final desse post.

PRAZER PELA PERFEIÇÃO

Dia bacana³: amigos bacanas, carro bacana, viagem bacana. Saímos cedo de São Paulo em dois carros. O muitíssimo (...) BMW 750i e o multiuso Corolla XEi 2.0 - o segundo carro seria usado como camera car. Bob e Bitu no BMW, e eu e Arnaldo no Toyota. Durante o trajeto até Joanópolis o Arnaldo, que estava meio baleado naquele dia, demonstrou pouca excitação pelo 750i.

Mas ele tem um ponto interessante; o carro deve ser tão equilibrado, tão confortável e tão perfeito que se torna até sem graça. Como se fosse um objeto que se bastasse por si só, algo de uma inteligência (artificial) superior. E sendo assim, melhor nem brincar. O Arnaldo não disse exatamente assim. Isso é uma interpretação minha depois de uma boa reflexão.

E eu precisei fazer essa reflexão porque o primo Arnaldo acabou parcialmente me contagiando com a sua conversa. Pensei no M3 que avaliei há tempos e me recordei do entusiasmo absoluto que senti antes, durante e depois de dirigí-lo.

O muitíssimo..., o multiuso e o Arnaldo
Também lembrei do Série 5, um carro de dupla personalidade, que inicialmente não me causou muito entusiasmo a não ser visual, mas que quando virou o Senhor Hyde me assustou. Me arrependi muito de ter feito um pré-julgamento errado desse carro e ter deixado passar a chance de dirigi-lo. 


Seguimos viagem falando sobre a vida em geral e eu pensava mais em como faria as fotos. Um dia eu ainda vou aprender a colocar a diversão na frente da obrigação. Talvez aqui caiba um parágrafo para algo pessoal.

Uma coisa é eu pegar minha câmera e sair por aí fazendo minhas fotos casuais, do que eu quero, onde quero, quando quero e como quero. Isso é uma terapia relaxante. Outra coisa é ser responsável pelas imagens que ilustrarão um post especial para o AE. Vocês não têm idéia de como os amigos blogueiros tem uma expectativa elevada sobre esse trabalho. E o que me dá prazer é sentir o envolvimento, a ajuda, o companheirismo deles durante as fotos.

Tem dias que realmente não estou com vontade. Mas a posição em que eles me colocam, o incentivo e a responsabilidade delegada adicionam gasolina de alta octanagem nas minhas veias. É uma posição gratificante, sem dúvida. Mas quando trabalhamos juntos é como se eu tivesse uma obrigação adicional. Aceita com muito prazer! Mas o fato é que eu levo isso muito a sério e praticamente só relaxo depois de saber que já honrei minha posição. Aí sim chega a minha vez de dirigir e desfrutar o entusiasmo pelo objeto fotografado e não pelo ato fotográfico.

Parada para aliviar o peso. Aí começamos o trabalho.

Voltando ao BMW, um pouquinho antes de Joanópolis paramos na estrada para aliviarmos o peso descartando parte de nossos fluidos internos. Ali mesmo já comecei meu trabalho e também a ter uma idéia sobre o carro.

Grande, no comprimento e na largura. Mas o espaço traseiro não é compatível. Interior bege clarinho, na verdade um marfim, combinado com preto, sugerindo alguma esportividade. Botões e comandos por todo lado, painel, portas, bancos. Mas uma certa simplicidade. Elegante, porém mais para chique do que para luxo ostensivo. Há uma certa austeridade alemã. Eu esperava muito mais luxo. Mostradores do painel bem clássicos, fundo preto e grafia em branco, mas muito simples. Ultra-fáceis de ler. Excelente ergonomia. Portas que se fecham por sucção e isolamento perfeito de ruídos externos. Nem o motor se ouve.

Mostradores claros e objetivos
  
Por fora uma forma clássica. Sóbria. Poucos cromados. Rodões 19-pol. com desenho esportivo. Simples mas com caráter. Como um traje esporte fino. O que mais me impressionou foi a distância do eixo dianteiro até a base da coluna A. Como em cupês esportivos. Isso dá um aspecto mais dinâmico ao carro.

Mas eu realmente tive dificuldade de entender ou descrever o Série 7 em uma palavra. Eu esperava que essa palavra fosse luxo. Não posso concluir isso. Mas quando li um material da BMW eu entendi a minha dificuldade. Na época do seu lançamento em 2008 o diretor de design da BMW, Adrian van Hooydonk, sucessor do polêmico Cris Bangle, disse: "Nossa clara intenção como o novo série 7 foi assegurar um equilíbrio perfeito entre elegância, presença e esportividade no mesmo pacote."

Elegância com esportividade 

Pois é, está tudo lá. Mas assim fica muito difícil de entender a personalidade do Série 7. Sem dúvida é uma máquina complexa e que tenta integrar suas contradições. Isso me causa algum desconforto. Mas acho que é possível desfrutar tudo que ela nos oferece sem se preocupar com o rótulo. Ainda estou digerindo isso!

Bob, Arnaldo, Bitu já com dose de realização. Chegara a minha vez. Logo ao sentar no banco do motorista esqueci de tudo que o Arnaldo falou. O entusiasmo apareceu como deveria ser. Afinal o carro é um BMW! Ajustei tudo e saí. Que barca! Pensei. Será que estou num Eldorado? O capô é sem fim, longo, quase o dobro do meu Corolla. O Bitu ao meu lado disse: esse carro é à prova de erros.

A distância entre o eixo dianteiro e base da coluna A dão um aspecto bacana 

Saí do trecho urbano com essa frase na cabeça. Será que é mesmo? Já estrada curvilínea veio a segunda onda de entusiasmo. O carro tem uma vivacidade incrível. O motor 4,4-litros V-8 biturbo de 407 cv a 5.500 rpm ligado a uma caixa automática de seis marchas carrega os 2.020 kg com uma facilidade incrível. Um jeito bem prático de mostrar isso é pensando no meu Corolla que tem 153 cv ao seu dispor para carregar 1.290 kg. O BMW tem 50% a mais de peso e 166% a mais de potência. O Toyota faz de 0 a 100 km/h em 11 segundos e o BMW em apenas 5,2 segundos. Isso gera um sorriso no rosto de qualquer um. 

Mas tem carros com essa aceleração que são bem nervosos e chegam a dar medo. O 7 parece que se move por dentro de uma tigela gigante de gelatina. Não vibra, não faz nenhum som e não balança, mas é incrivelmente ágil. Com tração, suspensão e direção cheios de controles eletrônicos, como controle de tração, estabilidade, esterço do eixo traseiro, assistência da direção e carga de amortecedores o carro transmite tanta segurança que pode ser inseguro. Isso mesmo!

Realidade distorcida

Podemos não perceber o quão veloz estamos e chegarmos a uma curva bem mais rápido que o esperado. É certo que como toda essa tecnologia é bem provável que a curva seja feita sem maiores problemas. Mas um boa dose de maturidade é necessária para desfrutar toda esse desempenho.

Como o Bitu disse que o carro é à prova de erros é claro que tentamos forçar algumas condições extremas como frenagens e acelerações fortes em curva. Nada de susto! Os controles assumem atuando nos freios, no motor e na suspensão e não conseguimos passar nenhum sustinho. Impressionante como essas correções são feitas de forma linear e sem uma intromissão brusca. Um refino técnico notável talvez proporcionado  pela frieza alemã. (nota pessoal: nesse exato momento estou escutando The Robots do Kraftwerk, uma coincidência apropriada)

Mas mesmo assim, a vivacidade das respostas do carro, motor, caixa, direção e suspensão, proporcionam uma experiência muito prazerosa. Diferente da impressão de dupla personalidade que tive sobre o Série 5, o  7 me parece muito mais equilibrado e cheio de si. Sabe que pode ser várias coisas e explora bem isso aglutinado-as, sem se preocupar com contradições. De fato o Arnaldo tinha um pouco de razão em não estar muito empolgado. Se o carro é tão perfeito assim, o motorista não serve para nada!

Mas mesmo assim eu me empolguei com o carro. Talvez não esteja na minha lista de desejos. Mas eu gostaria muito de passar um tempo maior com ele e aprender a desfrutar de todas as suas virtudes. De tão acertado, o carro encolhe quando o usamos. A sensação de barca se foi.

O Série 7 se comporta com se não tivesse mais de 5 metros e quase 2.000 kg

E se quisermos apenas nos transportar de um ponto à outro, o Série 7 deve ser uma das opções mais confortáveis que existe. Principalmente no banco dianteiro, como passageiro. ou no banco traseiro com o banco dianteiro todo para a frente. Bancões com tudo que é ajuste e ar-condicionado individual. Os traseiros também reclinam e têm telas individuais. Silêncio e conforto de rodagem absolutos.

Na volta, como passageiro, foi quase impossível não cair no sono. E também foi um choque voltar para o meu querido carro. Eu realmente acho o Corolla um excelente conjunto com desempenho e conforto muito bons. Mas a sensação que tive foi parecida com quando eu saio do Corolla para o Uno Way da minha esposa. Como a gente se acostuma fácil com o que é bom.

Dentre a miríade de tecnologias e equipamentos que o carro tem eu gostei mais de algumas. O manual do proprietário tem 340 páginas. Impossível de ser lido durante esse passeio. Mas o sistema de informações do carro, que tem uma grande tela no painel, tem vários filmes sobre diversos sistemas do carro. Na verdade todo o manual do proprietário está lá, só que muito mais fácil de ler e consultar pois é bem interativo. Foi aí que descobrimos que o carro tem rodas traseira esterçantes e relação de direção das rodas dianteiras variável.

O manual interativo ajuda bastante, apesar do português lusitano

Também achei o iDrive, que á a interface com o sistema de informações, muito fácil de usar. Bem intuitivo. O sistema de navegação é um show. Telona, com gráficos de primeira, claros e fácil de ler, e funcionamento excelente. Dá para usar o sistema nas telas traseiras.

No painel de instrumentos tem uma escala de consumo de combustível que se junta com uma escala de geração de carga para a bateria durante desacelerações com freio-motor e pelo uso dos freios. O  É parte do que a BMW chama de Efficient Dynamics. O Bob com certeza vai falar mais disso.

Efficient Dynamics - gerador ativo durante frenagens e desacelerações

Também achei muito interessante a disposição dos coletores de escapamento e turbos que ficam no meio do "V" do motor. Retirando a capa plástica dá para vê-los e também as sondas lambda. Com isso o conjunto ficou mais compacto. Mas mesmo assim o cofre é tomado por uma grande parafernália. Mas não há vareta de verificação do nível de óleo. Tanto o nível quanto a qualidade ou necessidade do óleo são indicados no sistema de informações. Este também indica as datas de revisão e trocas de pastilhas de freio de acordo com o desgaste real.

Os turbos estão no meio do "V"

A capa plástica que pode ser removida facilmente

Mas não sei por que, acho difícil imaginar um dono de Série 7 "perder tempo" se divertindo e aprendendo a utilizar seu carro por completo.

Concluindo. Eu tinha uma visão errada sobre esse carro, muito provavelmente pela condição do nosso país e pelo seu preço exorbitante de 569.000 reais (mais de meio milhão de reais!!!). Essa máquina perfeita não se trata de algo ostentatório, ou de um símbolo de luxo. Ao menos no seu país de origem. Acredito que essa experiência me fez aprender que o BMW Série 7 é um BMW como todos os outros - uma máquina de prazer que também serve para transporte. Porém nesse caso, vem em tamanho grande. 

Ele gosta de asfalto, como todo BMW

Outra coisa que aprendi é que nunca mais devo pré-julgar um BMW. Eu já deveria saber disso. É claro que um BMW sempre proporcionará prazer. Isso pode vir acompanhado de muitas outras coisas, mas o prazer sempre estará lá. Espero que a BMW não me decepcione nunca.

Pensando bem eu teria um 7, mas um que tivesse mais uma letra no emblema, um M.

PK

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