JEBEL HAFEET, AL AIN


Ando sumido, mas entre um trabalho e outro sobrou um tempo livre em Dubai, onde estou agora.

Logo que cheguei ao aeroporto parei numa livraria para dar uma olhada nas revistas de carros Várias conhecidas como Car, Autocar e Evo tem edições específicas para o Oriente Médio - Middle East Edition. De cara peguei uma edição especial da CarEpic Drives, uma compilação de avaliações de carros bacanas feitas nas melhores estradas dos Emirados Árabes Unidos, onde fica Dubai, um dos sete emirados. Também comprei uma Evo com uma avaliação do novo Pagani – esse com o nome complicado - especialmente para o MEU AMIGO Juvenal Jorge.



Foto da matéria que me instigou a viajar até lá
No desembarque encontro um representante da Budget, onde fiz uma reserva para alugar um carro. Ele estava me aguardando para me levar de carro até o balcão da locadora, pois a Budget fica em outro terminal. Chegamos lá e uma ingrata surpresa: para alugar um carro é em Dubai é necessário a carteira de habilitação internacional. Depois de insistir muito dizendo que nunca precisei dessa licença para alugar um carro, peguei um táxi para o hotel. Fiquei muito chateado.

Eu estava com mais dois amigos e tinha vários planos na cabeça, entre os quais não estava ficar dependente de táxi ou metrô. Dubai é muito parecida com algumas cidades americanas, um misto de Los Angeles com Miami, com ruas e avenidas muito largas. Há também quem diga que por estar no deserto se assemelha a Las Vegas. E assim como nos Estados Unidos, não é um lugar para se estar a pé.

Logo no dia seguinte já iríamos para o Ferrari World, que fica a 100 quilômetros, em Abu Dhabi – isso reservo para outro post. No balcão do hotel perguntamos se havia algum transporte para lá. A Emma, uma filipina, nos recomendou alugar um carro. Eu expliquei o problema com a licença e ela me disse conhecer uma locadora que não a exige. Logo ela ligou para a locadora que em alguns minutos estava com o carro à minha disposição, um Nissan Tiida 1,8 automático, hecho en Mexico. Locadora meio duvidosa, bem diferente da segurança transmitida por uma grande empresa como Avis, Hertz ou Budget. Mas como eu não tinha escolha, foi essa mesmo.

Ao pegar o carro, perguntei se havia alguma recomendação. Há radares por todo lado e as multas são altas. O limite nas autoestradas é 120 km/h e há um radar a cada dois ou  três quilômetros. Os carros vendidos aqui saem de fábrica com um alerta luminoso no painel que indica toda vez que se ultrapassa os 120 km/h. O governo está com uma política de zero acidentes até 2015. Então achei até bom ter resistido a tentação de alugar um BMW Z4 que estava na lista dos modelos disponíveis.


Alerta luminiso de velocidade acima de 120 km/h
Para se ter uma ideia, tive que deixar com o representante da locadora uma daquelas antigas folhinhas onde se passa o cartão de crédito, assinada. Perguntei se ele me devolveria na entrega do carro e ele disse que não, pois as multas podem demorar alguns dias para chegar. E aquela folhina é para eventualidades do tipo...

Outro alerta foi em relação aos pedágios. Na via principal da cidade, uma larga avenida com ou seis faixas de cada lado, que corta a cidade de um lado ao outro, há vários pedágios. Não há cabines, apenas pórticos com sensores que registram cada passada, como no Sem Parar, mas sem a cancela. O chip, bem fininho, é colado no para-brisa na mesma região onte fica o transponder do Sem Parar.

O cara me disse que eu deveria pagar os pedágios na entrega do carro e que poderiam ser mais de 50, pois essa avenida é caminho para todos os lugares interessantes. Cada pedágio custa cerca de R$ 2,50. É claro que descobri caminhos aternativos e até mais bacanas.

O trânsito, apesar de intenso, flui muito bem e não é complicado nem difícil. E com tantas câmeras é realmente seguro. Dubai não é muito grande. Deve ser bem menor que Campinas. É um canteiro de obras gigante, mas tudo bem sinalizado. Depois de passar um dia conhecendo a cidade e suas atrações, como o prédio mais alto do mundo, o Burj Khalifa, e viajar até o Ferrari World, minha natureza inquieta e lembrança dos posts do Marco Molazzano me levaram à revista Epic Drives.

Dei uma lida na matéria sobre um Jaguar XK avaliado numa montanha chamada Jabel Hafeet, em Al Ain. Uma procurada no Google Maps – estava sem navegador – e a confirmação de que era fácil chegar lá. O Wikipedia diz que de acordo com o site Edmunds.com a estrada nessa montanha é a melhor do mundo. Interessante! 

Então, assim que acordei do dia seguinte saí para Al Ain. Antes de pegar a estrada passei no posto para abastecer. Um litro de gasolina custa por volta de R$ 1. E o Nissan, andando bem na maciota, deve fazer por volta de 15 km/l. Para essas coisas eu sou uma negação. Nunca me preocupo com o consumo de combustível nas viagens. Tem tanta coisa para pensar que eu simplesmente não me atenho a isso. Só notei que o carro é muito econômico.

Nessa viagem eu também não quis me preocupar muito em avaliar o carro. O Tiida é um carro moderno, bem construído, confiável mas com coeficiente de autoentusiasmo beirando o zero. Mas duas coisas me chamaram a atenção: o ótimo espaço interno e a cor bege do interior. Como nessa região é poeira por todo lado, o interior bege faz muito sentido. E eu acho bonito. Mas que ironia! Eu viajando para uma estrada de entusiasta num carro sem emoção.



Tiida com interior bege
No caminho de ida passei pelo autódromo de Dubai. Um show. A pista esta pronta e em uso, com arquibancadas enormes e luxuosas. Mas há muitas obras ao redor, pois estão preparando todo um complexo com infraestrutura e hotéis com ligação direta para o circuíto. Coisa de cinema. Não havia carros na pista mas pude ver um carro chegando de caminhão.


Uma breve parada no autódromo de Dubai, que fica no subúrbio da cidade
Cheguei facilmente em Al Ain, a uns 110 quilômetros de Dubai. Parei no primeiro posto na entrada da cidade para comprar um mapa. Nada de mapa. Peguei um indicação com o frentista para Jabel Hafeet e segui o caminho que não era nada fácil dali para frente. Perguntei pela direção a seguir mais umas quatro vezes até que encontrei a primeira placa, já no pé da montanha.

Mas fui sem pressa e desfrutando o passeio num lugar totalmente desconhecido. Um situação estranha, pois a minha tranquilidade era meio forçada. Tive que ficar muito alerta para não cometer nenhuma infração. Estar num país totalmente desconhecido, com uma cultura completamente diferente, me fez ficar apreensivo. E por isso me comportei extremamente bem. Coloquei na cabeça que essa viagem era apenas para conhecer o lugar, nada mais.

Comecei a subida de pouco mais de 1.200 metros de altitude e logo me lembrei de quando eu e outros membros do blog avaliamos o Fiat 500 no Pico do Jaraguá. Se eu tivesse algum dos meus parceiros comigo com certeza eu estaria mais confiante e relaxado. Amigos fazem falta nessas horas, até para compartilhar as descobertas. A pista de quase 12 quilômetros é excelente, lisa, larga, bem sinalizada e numa subida não muito íngreme. As curvas são um convite para uma tocada mais intensa.


Subida leve e curvas muito bem feitas
Lembrei da matéria com o Jaguar XK e do Z4 que eu poderia ter alugado. Porém havia muitos pontos com obras onde escavadeiras retiravam pedras que poderiam rolar para a pista. Portanto, uma direção mais esportiva não era conveniente. A paisagem é muito árida, com pedras por todo lado mostrando que a estrada foi rasgada na montanha rochosa. Nenhuma árvore, nada de verde, só bege em todas as tonalidades. Uma secura total.


A estrada é perfeita, mas há obras em vários pontos
drante o percurso há vários pontos de observação e o que se vê para todos os lados é areia, rochas, o deserto. Continuei subindo e me deparei com a entrada de um hotel. Um hotel no meio do nada! Que dureza viver numa região onde não há belezas naturais. E quase no topo há uma mansão enorme sendo construída e outra já pronta!


Montanhas menores

Hotel no meio do nada

Mansão, daria para fazer uma bela garagem para a coleção de carros do xeique
Diferentemente das estradas montanhosas da Europa, as dos posts do Molazzano, essa estrada não leva a nenhum lugar. Vai apenas até o topo da montanha. E lá há um estacionamento enorme e uma lanchonete bem meia boca. Parei o Tiida e desci para ir ao banheiro e tomar uma Coca-Cola e um sorvete. Só estava eu, o atendente da lanchonete, que me atendeu sem desligar o celular, e um gorila


No final da estrada um estacionamento gigante e a lanchonete, momento de paz

Coca, sorvete, o Tiida e um gorila
Foi um momento de paz, silêncio, tranquilidade. Estava num lugar onde jamais eu poderei imaginar que estaria algum dia da minha vida, complatemente improvável, no meio do nada! Mas o bacana é que o que me motivou a chegar lá foi extamente esse blog, ter uma história para contar, fazer um post diferente, sobre como o autoentusiasmo pode nos mover.

Acho que o Edmunds.com exagerou um pouco sobre esta estrada ser a melhor do mundo. Mas mesmo assim valeu muito o passeio!

Mais fotos a seguir:



Para Al Ain pela Rota 66!


Um VW "made in Brazil"
 

O companheiro iPod, o mapa até a saída de Dubai e a inseparável câmera
 

Olhando para o lado da estrada até Al Ain





Nas quatro fotos acima mais curvas de Jabel Hafeet

Tiida no topo

Lanchonete no topo


Nas cinco fotos acima, mais vistas do deserto


Pista parcialmente interditada


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