BMW X6, INTRIGANTE

Post feito originalmente para o blog AUTOentusiastas.

Coupé!

O BMW X6 já é uma figurinha carimbada no AUTOentusiastas. Sua proposta inovadora com um desenho chamativo e apreciado pela grande maioria das pessoas é uma contradição. E como o ser humano tem muita dificuldade em conviver com contradições, o X6 gera boas discussões e questionamentos, seja em posts ou em comentários dos leitores. Já falamos muitos sobre ele por aqui. Mas de fato nenhum de nós do AUTOentusiastas teve a chance de dirigir o SAV, como a BMW o chama.

SAV de Sports Activity Vehicle, algo como veículo para atividades esportivas. Acho que esse nome não tem nada a ver! Mas seja lá como o chamam, ele é um bicho diferente. Um X5 cupê. E é bacana. Muito mais bacana do que um X5. Mas é bacana de andar?

A grade dupla, identidade da marca.

Cheguei cedo em a uma confraternização de final de ano num sítio no interior de São Paulo. Fui um dos primeiros. Quando cheguei vi um X6 estacionado, do dono do sítio. Não tive dúvida e pedi a chave, que gentilmente me foi cedida. Nem olhei muito o carro! Abri a porta e já sentei ao volante. Percebi que o carro era blindando. Aborreci-me, pois detesto qualquer carro blindado. Mas logo me lembrei que as blindagens mais novas pesam menos de 200 kg. Não seria um problema para a performance esperada. E não é todo dia que se consegue a chave de um X6.


Bancos dianteiros excelentes, confortáveis e com um bom suporte.
Todos os ajustes são elétricos

O dono insistiu em me ensinar o funcionamento da alavanca seletora do câmbio, uma caixa automática convencional de 6 marchas. Eu querendo sair logo e ele me explicando. Até que foi bom, pois tem um macetinho para sair do parking e para engatar a ré e. Nada que eu não teria descoberto. Bolsa com a câmera já abordo, convidei minha esposa que já estava entusiasmada em andar no carro. Ela aceitou prontamente, mesmo eu a alertando que seria um teste, mesmo que rápido, e não uma simples voltinha. Fiquei super feliz ao tê-la como companheira. E ela se comportou bem melhor do que o esperado e não atrapalhou o ritmo alucinante com que eu fuçava nos comandos, aprendia sobre o carro a medida em que ia dirigindo, pensava no seu comportamento, e imaginava e trabalhava nas fotos. Foi legal.

Queria sair logo do sítio para não ter que levar mais uma mala. Com os 200 kg da blindagem não queria levar mais ninguém! Então ela subiu a bordo, dei uma ajustada meia boca no banco, com tudo que é comando elétrico, inclusive encosto de cabeça, e saí logo dali para não dar a chance para outros. Que egoísmo o meu! É isso mesmo. As vezes é bom.


Mostradores simples e objetivos, mais clareza impossível, como em todos os BMW

Parei mais adiante, ajustei corretamente o banco e volante, com ajuste elétrico também, e parti para o iDrive, aquele comando que existe em todos os BMW modernos que controla as funções do carro. Eu queria encontrar os ajustes de suspensão e de performance. Não achei nada ajustável. Mas naquele momento descobri que se tratava de um modelo com tração integral, no caso da BMW, tração xDrive. Uma das telas do mostrador central mostra a distribuição de torque em tempo real em cada roda. O xDrive usa a distribuição de torque para fazer correções na trajetória podendo controlar o torque em cada roda.


XDrive, tração integral inteligente que distribui o torque em cada roda
de acordo com a tração

Saímos do sítio e pegamos uma estrada de terra em bom estado e pouco acidentada. Nesse momento eu ainda não tinha observado as medidas dos pneus, mas sabia que eram bem largos. Para meu espanto o X6 rodou macio, muito macio e confortável. Algumas aceleradas e forçadinhas nas curvas para ver o xDrive trabalhando através das setas vermelhas que indicam o torque em cada roda se alterando em tempo real no mostrador digital. Claro que com um carro de 325.000 reais, que não é meu, não pude nem chegar próximo do limite. Minha esposa também não deixaria...


Surpreendentemente macio mesmo em estradas de terra

Antes de chegarmos na estrada pavimentada passei com mais vigor numa rotatória; carro na mão. Peguei o acesso para a estrada e pé embaixo! Estranho, pois esperava algo muito mais vigoroso. O telefone tocou e minha esposa atendeu meu sogro. Ela falou para ele que estávamos num carro espetacular. Ele perguntou que motor o carro tinha. Eu afirmei categoricamente que era um V-8. Seguimos enquanto eu brincava bastante com o acelerador mas não me empolgava. Pensei sobre o efeito da blindagem na performance. Não me convenci de que esse era o problema. Veja bem, o problema na realidade não é que a performance era ruim, só não era a que eu esperava diante de um V-8.


Alavancas de trocas de marcha no volante
Nos dois lados pode-se aumentar ou diminuir marchas
Pela frente, com o polegar, se reduz, por trás se aumenta as marchas

Não aguentei e parei no acostamento. Documento do carro encontrado e a resposta também. Sob o capô um 6 cilindros - em linha - de 3,0 litros. Na minha cabeça, acho que para combinar com o desenho do carro, sempre pensei que os X6 fossem todos V-8. Na verdade sempre que imagino um X6 o M, animalesco, é que me vem à cabeça. Mais de 2 toneladas de peso (2.070 kg), mais a blindagem e dois adultos, e eu querendo acelerações alucinantes. Só se fosse o M mesmo!

Na saída do acostamento decidi medir o tempo de 0 a 100 km/h. Caixa no modo automático, pé no freio, aceleração total, quando ponteiro dos segundos chegou na posição determinada soltei o freio. Olho no velocímetro, 100 km/h, olho no relógio e a marca de oito segundos, talvez sete. Tanto sete quanto oito segundos são excelentes. A BMW divulda 6,7 segundos. A diferença está na blindagem.


Um emblema pode indicar muita coisa

Se eu fosse menos ansioso e tivesse reparado no emblema na porta, XDrive 35i, eu pelo menos saberia que não se tratava de um V-8 e que a tração é integral. Mas eu nunca saberia a cilindrada do motor. Eu já desisti de tentar acompanhar as designações da BMW e da Mercedes. Os caras se estreparam com a nomenclatura ligada a cilindrada, pois hoje em dia motores menores tem muito mais potência que motores maiores de anos trás. O lógico seria que esse X6 fosse designado com XDrive 30i. Mas esse motor 3.0 litros tem 306 cv. Mais que muitos outros 3.5 litros. E o mais impressionante é o torque, 41,5 m.kgf já a 1.300 rpm. Isso graças aos dois turbos gêmeos, um para cada três cilindros, e a injeção direta.


Motor 6 em linha com turbos gêmeos, e invisíveis
Reforços na estrutura, uma barra transversal logo atrás do radiador,
e mais uma de cada lado, bem menores e na diagonal
unindo as torres da suspensão à base do para-brisa

Enquanto eu pensava em tudo isso, fiz um comentário para minha esposa assim que acelerei no primeiro retão: que carro alto! Achei o X6 muitíssimo alto e isso me gerou alguma insegurança ao pisar fundo. Imediatamente lembrei do M3 e não consegui entender o sentido daquela altura toda. Foi então que minha parceira exclamou: nossa, é exatamente como eu gosto! Como eu estava envolvido com outras questões achei melhor não iniciar uma discussão. Ela não me entenderia e o oposto também. Com 40 anos a gente já sabe em quais discussões vale a pena entrar.


A altura elevada contribui para uma ampla visão à frente,
mas o teto rebaixado e a traseira alta acabam com a visão traseira.
Os retrovisores externos são grandes
 e para manobrar há uma câmera de ré além de sensores 

Na parada no acostamento eu aproveitei para olhar as medidas dos pneus, 255/50R19 na frente e 285/45R19 atrás. Belos “talalargas”. Fico sempre impressionado com as suspensões modernas. Carros com pneus assim num passado não muito distante seriam indirigíveis em ruas e estradas ruins, e muito menos em estradas de terra. A direção também é precisa, mas achei um pouco “solta” demais em altas velocidades. O X6 é extremamente confortável, e impressionantemente estável ao mesmo tempo. O medo de acelerá-lo com seus 1,69 metro de altura acaba rapidinho. Acelerando e conversando com a mulher acabei me desligando do velocímetro. Quando olhei a velocidade me surpreendi. Não posso contar a quanto estava, mas era bastante, porém a sensação de segurança era total e a mesma que se eu estivesse a uns 80 km/h a menos num carro normal. Daria pra fazer um trecho de 100 km em meia hora sem ficar tenso. Ah, uma Autobahn! Mas nem por isso eu passei a gostar de carro alto!


Rodas grandes ajudam no visual do X6

Fizemos o retorno e voltamos. Aí minha mulher quis dirigir. Sua ideia era voltar no trecho de terra. Eu, que queria andar mais no carro, sugeri mais uma volta na rodovia. Então ela pegou o volante e já na reta disse: esse carro me deixa tensa! Para quem anda de Corsa eu achei bem normal esse sentimento. Ela relutou em acelerar forte, mas depois da minha insistência topou. Sua palavras foram:

“Definitivamente não preciso, não preciso de um carro desses. Quem é que precisa de um carro desses? Qual é a utilidade desse carro?”


O X6 impressiona as mulheres, ao volante ou não

Já cansei de refletir sobre isso e não cheguei a nenhuma explicação racional que não incorra em alguma crítica ao seres humanos por desejarmos coisas que nem sabemos por que queremos. Aprendi com amigos do AUTOentusiastas que podemos gostar ou desejar algo simplesmente porque é legal, bacana ou nos encanta. Também tenho aprendido que não podemos viver sem contradições e que é melhor não tentarmos explicá-las, simplesmente aceitá-las.

Por isso, eu retiro qualquer crítica que eu possa ter feito ao X6 por não compreendê-lo por completo. E agradeço a BMW pela coragem de fazer algo que foge dos padrões do que consideramos normal e ao mesmo tempo nos proporcionar prazer, em várias formas.

O X6 é o carro mais intrigante que conheço.

PK


Painel típico dos BMW, sóbrio, elegante e funcional. Perfeito!

Alavanca de trocas de marcha.

Coupé!

Na traseira apenas dois lugares, mas muito confortáveis.

Porta-malas com capacidade para 570 litros.
A tampa tem acionamento elétrico para abrir e fechar.

Faróis de xenônio e com "angel eyes", verdadeiras jóias.


E agora as de "corpo inteiro".

Um comentário:

Roberto Dallabarba disse...

Adoro o design desse carro. Não é apenas original, é até, e me arrisco a dizer, harmônico nas linhas.
As fotos fazem jus ao carro.