CAMARO, DIAS DE SONHO

Post originalmente feito para o blog AUTOentusiastas.
Sonho?!

Ter um Camaro sempre esteve entre os meus melhores sonhos. Não sei muito bem quando e como isso começou, mas deve ter sido lá na década de 70. Lembro-me que nas raras vezes que eu via Corvettes, Camaros e Firebirds eu sentia algo diferente. Mais tarde, já adulto, escolhi o Camaro como o meu carro favorito. Nem sei muito bem por que, pois não há nenhum motivo racional para isso, simplesmente escolhi. Hoje já acho muito difícil eleger apenas um carro favorito. Mas o Camaro continua ocupando um lugar de destaque, principalmente o novo Camaro.

No Natal de 2006, após ver o Camaro Concept no Salão do Automóvel de São Paulo do mesmo ano, cheguei até a fazer um pedido especial para o Papai Noel. E não é que ele me atendeu quase quatro anos depois! Nas últimas férias de julho eu tive um Camaro igualzinho ao do cartão, por dois dias.

Faça seu pedido ao bom velhinho que ele atende!

Uma das inúmeras vantagens de viajar aos Estados Unidos é a facilidade com que se faz algumas coisas com um custo até que razoável. Uma delas é alugar carros. Já saí do Brasil convicto em alugar um Camaro e um Mustang. Porém sem nenhum planejamento concreto. Lá em Orlando, um dia acordei e resolvi descobrir se havia alguma locadora de carros no hotel em que eu estava. Para minha sorte havia. Então fui ao balcão da Hertz e reservei um Camaro para o dia seguinte, sendo que o jeito mais fácil de pegá-lo seria ir até o aeroporto a 20 minutos do hotel.

A única pergunta que fiz - já sabendo a resposta - foi se havia um carro com caixa manual. Não custava tentar! Nem perguntei sobre o V-8, pois se houvesse disponibilidade causaria um sério problema a minha sanidade. Além do mais, o meu objetivo era avaliar os modelos mais populares do Camaro e do Mustang, ambos mais “possuíveis” e menos extremos comparando com minha realidade. Mas pensando bem, acho que fui muito modesto no meu desejo.

A paz interior pode ser perturbada por uma tempestade.

Antes que perguntem, os dois dias de aluguel, com tanque cheio e um seguro adicional – pela primeira vez que aluguei um carro achei prudente - custaram 436,00 dólares. Caro? Sim, mas não muito. Deve dar para fazer isso gastando menos se tiver paciência e tempo para pesquisar antes. Mas na hora nem raciocinei, simplesmente entreguei o meu cartão de crédito em troca do sonho. Há momentos em que a razão simplesmente não serve para nada.

No dia seguinte acordei e fui ao aeroporto a bordo da insuportável Chrysler Town and Country com o meu amigo Waldir dirigindo como um nerd – Waldir, me desculpe por esse comentário. Então peguei o carro. Um modelo 1LT, um acima do modelo de entrada. Prata, que saco! Já tinha visto o maravilhoso verde Synergy nas ruas e as cores mais tradicionais também; o laranja Inferno e amarelo Rally. Mas foi o prata que eu pedi ao Papai Noel!

Essa frente malvada faz o Cx atingir 0,37.

Por fora o Camaro entusiasma. Sua frente tem cara de mau, apesar de ser o mocinho no cinema. A fórmula frente longa, teto baixo e para-lamas traseiros musculosos funciona muito bem. Não tem com não achar que o Camaro seja uma ameaça à nossa paz mental. Mas a meu ver é um desenho que tende a cansar. Já o Mustang é mais atemporal. Vivo um dilema profundo por não conseguir me decidir se o Camaro é mais bonito que o Mustang. Acho ambos mais bonitos que o Challenger. Mas os três são ícones desejados por qualquer um com um mínimo de autoentusiasmo. No modelo que aluguei, o único ponto que deixa um pouco a desejar nessa versão é o conjunto rodas/pneus.

As rodas até que são bonitas mas apesar de serem 18 polegadas os pneus também são grandes e de perfil mais alto, 245/55 R18, ficando um conjunto muito grande para preencher as caixas de roda. Lembrando que o desenho do Camaro foi feito para acomodar rodas gigantes, de 21 polegadas. Mas isso é aceitável, sendo que o 1LT é o segundo modelo mais barato, custando ao redor de 24.000 dólares sem frete. Acrescente mais 1.000 dólares para a caixa automática, que para nós seria dispensável.

Rodas, apesar de grandes e bonitas poderiam ser maiores ainda com pneus de perfil mais baixo.

Já que falei em rodas e pneus, o Camaro vem sem estepe e com um kit de emergência com compressor e selante. O estepe, daqueles fininhos, temporários, é um opcional que custa 150,00 dólares. Morando lá dá para abrir mão do estepe e ficar com esse kit. Quando chequei o porta-malas à procura do estepe me lembrei do MAO ao encontrar a bateria lá, onde deveria estar.

Compressor de ar e bateria abaixo de onde seria o estepe, que é opcional.

Entrei no carro e me ajustei no banco. Porta bem comprida – 2,85 metros de entre-eixos - altura do banco bem pequena, difícil de entrar e sair em estacionamentos apertados. Ainda bem que lá nos EUA espaço é o que não falta. O interior é muito bem executado. O desenho é limpo e direto. Em uma primeira impressão parece até simples demais. Os que gostam de botõezinhos e luzinhas pra todo lado vão achar o Camaro espartano. Eu prefiro assim, simples.

Mas apesar dos plásticos por tudo que é lado, a impressão de qualidade é excelente. Os plásticos têm texturas agradáveis de olhar e ao tato, além de encaixes perfeitos. Não chega a ser um Audi, mas é realmente bem-executado. O desenho do painel integrado com os painéis de porta agrada muito. E o painel de instrumentos com iluminação azul é ao mesmo tempo retrô e moderno. O volante é grande e o aro tem uma seção elíptica, ovalada, diferente do padrão. Mas a pega é muito boa.

O volante é muito grande e painel de instrumentos com iluminação azul agrada muito.

A posição de dirigir é bem baixa e a linha de cintura é alta. Andar de vidro aberto com o braço esquerdo apoiado na porta chega a ser desconfortável. O banco é envolvente e tem um bom suporte, deixando-nos bem-encaixados e favorecendo a vontade de acelerar e andar mais forte, apesar de serem um pouco macios demais. O para-brisa acompanha o formato das novas TVs, é wide-screen, largo e baixo. Esses fatores podem até ser claustrofóbicos para alguns, mas na verdade proporcionam um apelo bem esportivo ao Camaro, e também me transmitem uma sensação maior de proteção e segurança. O banco traseiro acomoda bem crianças. Mas lá a sensação de clausura eliminou qualquer chance da minha filha querer andar comigo.

Os pequenos retrovisores externos e a traseira alta comprometem a visibilidade para trás em manobras. Mas logo me acostumei e não tive problemas com isso. Mas por aqui, onde temos que fazer balizas e estacionar em lugares apertados, um sensor de estacionamento não seria má ideia. A visão dos para-lamas traseiros pelos retrovisoers é bacana e empolgante.

Na dianteira, apesar do teto baixo, o espaço é muito bom, já no banco de trás a pequena janela não é suficiente para aliviar o aperto.

Saindo com o carro logo notei que o pedal do acelerador é bem arisco e responde bem às chamadas, gostoso de usar, com uma ótima modulação e esforço. Justinho, ajuda na excelente percepção de qualidade. E também encontrei botões de trocas de marcha atrás do volante. A caixa automática de seis marchas tem modo manual esportivo com troca pelos botões, opção que o Mustang não tem.

O motor é um V-6 de 3,6 litros e injeção direta e duplo comando de válvulas com bloco e cabeçote de alumínio que produz 308 cv a 6.500 rpm e 37,7 mkgf a 5.100 rpm. A caixa de câmbio automática tem quinta e sexta marchas multiplicadas - overdrive, longas, que juntamente com o motor de injeção direta, ajudam a manter o consumo de combustível mais baixo. Pelo computador de bordo o consumo a 100 km/h é de 7,5 litros a cada 100 km, ou seja, 13,3 km/l. Na viagem que fiz até Tampa para visitar o Tampa Bay Museum a média foi de 8 km/l, isso com o pé pesado que tenho. Nada mau para um V-6 com mais de 300 cv. E também a 100 km/h o motor está a 1.800 rpm, graças à sexta marcha que, além de melhorar o consumo, aumenta o conforto de rodagem.






A primeira impressão foi muito positiva. O casamento do motor com a caixa e com o chassi é coisa fina, bem engenheirada. Não exagero ao afirmar que me senti num carro alemão, tamanha a precisão e coesão em todo o conjunto. Mas, peraí! O Camaro foi projetado na Austrália, com muito da engenharia Opel, e por fim é fabricado no Canadá e apenas vendido nos Estados Unidos. Pois é, o Camaro não tem nadinha de americano. Usa a plataforma/arquitetura de tração traseira Zeta, desenvolvida pela Holden quando a Opel desistiu de fazer uma nova geração do Omega no final dos anos 90. E isso é claramente notado na sua atitude que vai desde a qualidade do fechamento das portas, passando pelo isolamento acústico, calibração de suspensão, posição de dirigir, qualidade na construção e sensação ao volante. Apenas o desenho, que apesar de bacana não tem nada de elegante, não condiz com o padrão europeu. Se a nova GM seguir essa direção podemos esperar algo muito positivo para ela e mais entusiasmante para nós.

Conjuto motor e caixa com muito vigor e prontidão.

O motor 3,6 mostra o vigor de um jovem de 18 anos. Sempre disposto em todas as faixas de rotação. Poucas vezes senti um prazer parecido como o de usar o pedal do acelerador do Camaro. E a caixa automática, feita pela GM, também dá o seu show. Em modo automático é super confortável sem deixar de ser esperta. Mas em modo manual a brincadeira fica simplesmente deliciosa. Nesse modo, sua inteligência deixa o motorista no comando, tanto para aumentar ou para reduzir as marchas. Ou seja, não tem aquela coisa chata de passar marchas para cima quando se atinge a rotação máxima. E ela também é bem permissiva para reduções. Simula até um punta-tacco, com uma acelerada para aumentar a rotação antes da redução. Não sei se as trocas são feitas em milésimos de segundos com nos superesportivos, mas no Camaro são rápidas o suficiente para divertir. Esse conjunto, V-6 mais caixa automática, faz da 0 a 100 km/h na casa dos 6 segundos. Dá pra reclamar?

Saí do aeroporto seguindo a minivan, que estava com o GPS. Numa distraída perdi a visão da minivan e passei reto onde deveria ter virado. Uma vez tendo o GPS disponível não prestei atenção em nenhum caminho, acabei me perdendo - o GPS ajuda, mas atrofia o cérebro. O que foi muito bom, pois fui parar em lugares com pouquíssimo movimento onde pude explorar muito bem o motor e caixa, e até um pouco da suspensão e comportamento em curvas. Depois dessa brincadeira acordei meu senso de direção e encontrei o caminho de volta.

Se perder de vez em quando faz bem.

A suspensão dianteira é McPherson e a traseira, também independente, de braços múltiplos. A GM diz que são 4 braços e meio. Ainda preciso entender o que é um meio braço. Parece coisa de marqueteiro que acha que quanto mais, melhor. O Camaro não foge à regra das suspensões modernas. Consegue aliar esportividade e conforto sem ser duro. No caso do Chevy, ao menos na versão V-6, está mais para o conforto, mas sem comprometer em nada a forte pegada do motor. Os pneus, apesar de perfil 55 são aro 18, o que proporciona uma boa altura de parede lateral contribuindo para o conforto. A direção, com caixa tipo pinhão e cremalheira, até que é rápida, com 2,5 voltas de batente a batente. Eu a achei muito bem calibrada no esforço que é progressivo. Inspira muita confiança. Só acho que o volante poderia ser um pouco menor. Os freios são compatíveis com a performance e são bem progressívos numa modulação perfeita.

De Big Mac o Camaro não tem nada!

No geral, essa versão do Camaro, com motor V-6, apresenta uma boa combinação entre esportividade e conforto. Apesar da ótima performance do conjunto motriz, bancos, pneus, suspensão, e ronco do motor proporcionam um bom nível de conforto de rodagem. Isso faz do Camaro uma excelente opção para uso diário, pois dirígí-lo, mesmo que numa tocada mais intensa, não requer nenhum esforço. Mas isso sem nos limitar o prazer. Eu achei essa combinação muito boa!

Nos dois dias que fiquei com o novo amigo descobri o quanto um autoentusiasta pode ser antissocial. Eu realmente não tinha vontade de fazer mais nada a não ser ficar rodando sem destino pelas ruas e estradas da Flórida. Isso me causou problemas de relacionamento. O Camaro é uma máquina muito competente, sólida, precisa e divertida. Proporciona muito prazer ao dirigir, pelo que é como objeto bem-executado, pelo que representa para a nova GM e pelo seu passado entusiasta.

O que eu queria era ficar rodando de Camaro o tempo todo e curtir o meu sonho ao máximo.

O melhor de tudo é que a GM do Brasil vai vendê-lo por aqui. Mas sinceramente eu acho um grande erro ela só trazer o V-8. É claro que eu gostaria de ter um SS V-8, mas um V-6 básico, com um preço mais acessível seria muito mais usável e compatível com o nosso país e faria muito mais autoentusiastas felizes. Afinal, mesmo sendo um V-6, são mais de 300 cv!

Tomara que a GM não se desvie desse novo caminho.

Foram dois dias que ficarm registrados em minhas lembranças como um sonho.

O sonho e a realidade (Corolla que tenho aqui no Brasil) lado a lado da janela do meu quarto de hotel.


Todas as outras fotos que não couberam no post estão no link:
Camaro 2010 - Fotos


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Camaro SS - Arnaldo Keller
Camaro LS- MAO
Go, little camaro, go - MAO
Camaromania - PK
Camaro V-8 e o consumo - PK
Camaro com ágio e líder - PK

Um comentário:

Sara disse...

Não me parece caro o preço que você pagou por ele é um carro high-end. Eu estou olhando para aluguel em santa cruz, você conhece um lugar confiável? Obrigado