FOTOS E PINGA

Tenho um amigão, irmão, que sempre me diz: "você só vê as pingas que tomo, e os tombos não". Lembrei dele quando estava fazendo as fotos da XXX Subida de Montanha no Pico do Jaraguá em São Paulo.

Os tombos começaram antes. Já no conflito de datas desse evento com outros compromissos familiares. É sempre aquela discussão para se chegar num acordo. Dessa vez não foi diferente. Mas optei pelas fotos ao invés de fazer o programa familiar de mau humor.

Sábado, seis da manhã. Abro o olho e penso de novo sobre a prioridade. Levanto e confirmo a disposição. Vejo o tempo; chuvoso. O evento é uma subida de montanha! Com chuva, será que acontecerá? E as fotos? Vão ficar muito ruins. Mas quando realmente queremos algo seguimos em frente. Café na padaria e chegada lá no pico as 7:20. Gosto sempre de chegar bem cedo para evitar a multidão e fazer fotos mais "limpas". Nenhuma alma viva. Hum, dá tempo de voltar para a evento familiar! Resolvi esperar. Oito horas e chegam alguns carros em plataformas - um deles o Motiva do Polati.

O ânimo volta, mas a chuva aumenta. Pego a câmera para me distrair fazendo cliques abstratos de dentro de carro, através do vidro. Fica tudo muito ruim, com exceção dessa onde consegui pegar um Porsche 911. Achei que o efeito nos faróis do ônibus, criado pelas gotículas d'água no vidro do meu carro ficou diferente. Daí um pensamento: fotos interessantes podem acontecer acidentalmente. E mais um: talvez essa foto seja interessante apenas para mim, que estava lá e a vivenciei. E um terceiro: acidente (?), eu não estava lá por acidente.

De qualquer jeito aí esta uma foto acidental, mas não muito, interessante pelo menos para mim.


Logo em seguida aparece um cara meio perdido que encosta o carro na frente do meu mas sem estacionar direito. Tenho certeza que estava com a mesma dúvida que eu. Será que vai ter subida? O reconheço pelo carro, chegou o Felipe Bitu. Mais uma injeção de ânimo. Um amigo é sempre bom para animar.

A chuva aumenta. Mas desisto da ideia de ir embora. Quem está na chuva é para se molhar! O Bitu pega um guarda-chuva e diz que será meu assistente nas fotos, me protegendo da chuva. Mais uma meia hora de conversa e os carros começam a chegar e mais pessoas também. O ânimo chega ao máximo.

A chuva diminui mas uma fina garoa continua. O início da subida é atrasado na expectativa do piso secar um pouco. Que demora! Já era quase meio-dia e o cansaço, fome e vontade de ir ao banheiro chegam. Será que valeu a pena ter vindo? Vou chegar em casa e encontrar mau humor...

Começou a prova. Decido subir pela pista até achar uma posição diferente dos outros fotógrafos, que se amontoam na largada. Vou subindo e parando em vários pontos da pista. Faço fotos de 3 a 4 carros em cada ponto. Sempre fica aquela interrogação sobre se mais acima existe um ponto melhor. Só subindo mais para saber.


O sol começa a aparecer e esquentar. Abro a jaqueta, que está sobre um moletom, que está sobre uma camisa jeans que está sobre uma camiseta. Além disso tenho que mudar todo o ajuste da câmera. Logo agora que tinha encontrado um ajuste bom para o dia encoberto. Entre um carro e outro faço um pit-stop na moita para um xixizinho. Mas para a fome não tem jeito; só se eu fosse o Bear Grylls, daquele programa A Prova de Tudo, que passa no Discovery Channel. O cara come qualquer bicho que encontra!

O sol some e o frio volta. E volta mais forte. O tênis, meio molhado de andar no mato na borda da pista. Os carros param de subir. Não vejo mais a largada pois já estou umas quatro curvas para cima. Quase dez minutos de espera e nada. Uma eternidade. Aproveito para estudar e descobrir outros ajustes de foco na câmera. Meus pannings, essas fotos com o carro em movimento que captam a velocidade deixando o fundo todo "riscado", não estão perfeitos como eu gostaria. Acho que o Zen é um pouco disso, se abstrair do mundo e ficar quieto.

O telefone toca. Ouço: você vai demorar? Respondo: não sei! No passado responderia que não. Mas como nunca conseguia cumprir o que falava passei a ser mais realista e direto. Um pequeno problema logístico em casa. Mas a tantos quilômetros de distância, com frio, pés molhados e tendo acabado de achar um ajuste legal na câmera não me havia chance de tentar resolvê-lo. Tem vezes que minha filha me pede algo e eu respondo: se vira! Não deu pra falar assim ao telefone, mas foi quase a mesma coisa. O nível de mau humor quando eu chegar vai estar no limite.

Bom, já que cheguei até esse ponto é bom que eu apresente as pingas que tomei...



No final deu tudo certo. Após um pequeno stress o acaso permitiu que o resto do dia fosse muito bom. Uma pinguinha de vez em quando faz bem.

PK

4 comentários:

Felipe Bitu disse...

PK

É isso aí camarada! Fotógrafo bom não precisa de rebatedor, um guarda-chuva quebra o galho!

Abraço

Bitu

Polati disse...

PK,

O sol sempre aparece para quem traz a luz, suas fotos brilham mais que qualquer chuva.
Seu fã, fraterno abraço
Polati

waldirluiz disse...

PK, concordo com você e com seu amigo pinguço. Temos que pagar o preço pelas nossas escolhas. Encontre algo para fazer, que te dê prazer e te tire do sufoco do dia-a-dia, e pratique-o. Muita luz, camera e ação para você...

Ale RoAz disse...

Parabéns pela cobertura, e pelos comentários... Nunca fico sabendo a tempo do Evento, quando já estava no Autódromo de Interlagos que fiquei sabendo através do meu amigo João Ometto Neto, que iria correr pela Stock Master: "Puts, se não tivesse Paulista hoje poderiamos estar lá no Pico né... Vai ter a Subida hoje." Falei: "Brincadeira né ?! Outra vez perdi !"

De uma passada no meu blog: aleroazbackstage.blogspot.com

Abraços, belas fotos !